A Pequena Sereia: Filme atualiza a animação e traz mistérios que deveriam ser deixados no fundo do mar

A versão live-action de A Pequena Sereia finalmente estreou nos cinemas. O novo filme da Disney reconta o conto de fadas já conhecido, reforçando a mensagem vinda do fundo do mar que uma geração de fãs parece não ter conseguido entender da primeira vez. Confira a crítica!

Reproduzir uma história de princesas em 2023 é um risco. Pensando no contexto do mundo em que vivemos, marcado por uma crítica – fundamentada – em símbolos ultrapassados que limitavam a imagem feminina, e saturado de lançamentos hollywoodianos viciados no apego à nostalgia – o que justifica o ciclo de remake, reboot e sequências -, apostar em uma nova versão de A Pequena Sereia é como jogar roleta russa no fundo do mar. 

O fato da Disney anunciar Halle Bailey, uma atriz negra, como a intérprete de Ariel contribuiu ainda mais para uma polêmica. Mas o que pode ter sido entendido como uma afronta ao imaginário nostálgico de uma branquitude que se acostumou com seu posto de privilégio e busca conservar seu status ao ponto de apelar para os argumentos mais ilógicos, acabou se transformando em uma aposta certeira para refletir o mundo atual. 

+ Leia mais: Super Mario Bros: O Filme traz toque de nostalgia para o público

A Pequena Sereia atualiza o fundo do mar com trama histórica

A nova versão de A Pequena Sereia traz atualizações essenciais para o clássico infantil. As músicas inéditas e as mudanças em algumas das letras tradicionais definem de forma mais clara o objetivo da protagonista: conhecer um outro mundo. Ele vai muito além de um príncipe – ainda que o amor não seja negado em prol de encaixar o longa em uma pauta progressista. 

A escolha de Halle como a sereia não só ajuda a compor esse cenário caribenho repleto de diversidade e que permite à personagem a se ver refletida no povo da terra, como também revela um talento escondido no mundo da música: o potencial cênico da cantora do duo Chloe X Halle como atriz. Sua feição meiga, sensível e delicada traz um ar juvenil e curioso para a protagonista que supera todas as expectativas. 

Halle consegue expressar emoções com seus olhos, mesmo em momentos em que eles estão imersos no fundo da água. Sua voz, por outro lado, contribui para trazer ainda mais potência para seus desejos, sonhos, angústias, se colocando como uma personagem a mais na narrativa. 

+ Leia mais: Netflix é notificada por Procon-SP após cobrar compartilhamento de senha do streaming

Mistérios marítimos prejudicam construção fantástica do filme

A Pequena Sereia: Filme atualiza a animação e traz mistérios que deveriam ser deixados no fundo do mar

E, se a voz de Halle atravessas às águas rumo à superfície, outros aspectos da adaptação poderiam ter sido deixados como mistérios do fundo do oceano. A caracterização da Úrsula (Melissa McCarthy) mira na fantasia infantil, fazendo com que perca todo seu poder como ser imprevisível e metamorfo que aterrorizava as crianças que assistiram à versão original. 

Por outro lado, os takes noturnos ou sombreados que escurecem o fundo do mar quase nos fazem esquecer o cenário tão colorido, charmoso e mágico apresentado no número Aqui No Mar. A única justificativa plausível para que a gente quase não consiga enxergar a cena da batalha final são as tentativas de esconder erros dos efeitos visuais, por exemplo. 

Pensamento falho, uma vez que a própria apresentação dos grandes amigos de Ariel, Sebastião e Linguado, já dão um tom decisivo para a narrativa. Ou você compra aquela versão realista e pouco expressiva dos animais marítimos, ou você o tempo todo retorna à superfície e se lembra que a magia do fundo do mar não se passa de um conto de fadas. 

A Pequena Sereia ensina a própria história para os fãs com nova adaptação

A Pequena Sereia: Filme atualiza a animação e traz mistérios que deveriam ser deixados no fundo do mar

Por mais que a travessia de Ariel seja uma história conhecida, o estúdio acerta em mostrar o porquê dessa trama precisar ser contada – e recontada – na atualidade. O encontro entre dois povos distintos, a suspensão dos preconceitos e a coragem de abraçar um novo mundo é só um reflexo dos rumos históricos que a nossa sociedade finalmente está tomando, e uma forma da Disney questionar o seu próprio público, que sabe de cor as letras de todos os seus maiores clássicos, se o que ele aprendeu durante todos esses anos com suas histórias favoritas foi realmente nada além de um festival de nostalgia. 

Se a geração que conferiu o título de 1989 não captou a mensagem (nem tão) escondida na animação, o estúdio está disposto a expressá-la de outra forma. Aceitando perder sua voz, até que essa história possa ser, de fato, ouvida por um outro mundo. 


*Direitos de Imagem

  • Thumbnail e imagens de destaque: Divulgação/Disney

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours