Lollapalooza é acusado de manter trabalhadores em estado análogo a escravidão

Com datas marcadas para hoje e ingressos valendo mais de R$ 1.000 reais, festival de música é acusado de manter equipe terceirizada em estado análogo a escravidão durante a organização do evento.

O evento que surgiu em meados dos anos 90 nos Estados Unidos, vem conquistando o mundo com uma Line-up recheada de artistas e visual único. Mas além disso, no Brasil, o festival também é conhecido pelos preços elevados do ingresso, onde o ticket para um único dia pode chegar a custar R$ 1.300 reais e pacotes luxuosos de até R$ 5.300 reais, fazendo com que a expectativa da organização, qualidade do ambiente, estrutura e atendimento seja alta.

Nesta quinta-feira (23) foi divulgado em uma reportagem pelo Repórter Brasil que uma empresa terceirizada pela empresa Time 4 Fun, organizadora do evento, mantinha os trabalhadores em condições antiéticas que iam contra as leis trabalhistas impostas pelo Ministério do Trabalho.

Entenda o ocorrido

Apesar de ser conhecido como um dos eventos mais caros do Brasil com organização quase que milionária, na terça-feira (21), 5 funcionários da empresa Yellow Stripe, uma empresa terceirizada contratada pela Time 4 Fun (T4F) para atuar na preparação do evento, foram resgatados de condições análogas a escravidão no Autódromo de Interlagos onde será a sede do Lollapalooza.

Tais funcionários trabalhavam diretamente com o abastecimento de bebidas em jornadas de trabalho de 12 horas e após o trabalho concluído, eram obrigados a dormir em cima de papelões e paletes nas tendas do estoque para vigiar a carga. A equipe escravizada atuavam na informalidade, sem registros trabalhistas.

Outras situações também foram relatadas, onde os envolvidos não recebiam papel higiênico, colchão e equipamento de proteção como afirma Rafael Brisque Neiva, auditor fiscal do Trabalho que participou da operação de resgate, feita pela Superintendência Regional do Trabalho no Estado de São Paulo, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Lollapalooza é acusado de manter trabalhadores em estado análogo a escravidão
(Reprodução/Repórter Brasil)

Posicionamento das empresas envolvidas

As duas empresas envolvidas no caso, T4F e Yellow Stripe foram notificadas pelas autoridades e deverão ser responsabilizadas pela situação onde os cinco trabalhadores foram encontrados em meio a organização do evento. Ambas são obrigadas a ressarcir cada um dos funcionários em aproximadamente 10 mil reais pelos salários atrasados, verbas de rescisão e horas extras. O valor total pode sofrer alteração e aumentar ainda mais caso tenha indenizações caso o Ministério do Trabalho entre com o pedido.

Após o ocorrido, a empresa dona do Lollapalooza, Time 4 Fun (T4F) afirma que respeita os direitos humanos e em um ambiente de trabalho diverso e acolhedor. A organização do evento também alega que existem cerca de 9 mil funcionários envolvidos com o projeto, afirmando que a prioridade é garantir condições dignas de trabalho.

Já a Yellow Stripe que é a contratante direta dos resgatados diz que cumpriu com a lei e que tudo foi feito de maneira legal “cumpriu as determinações do Ministério do Trabalho, sendo que os empregados em questão foram devidamente contratados e remunerados”.

Em nota o Lollapalooza divulgou um comunicado oficial onde expõe o posicionamento da empresa em relação ao acontecido.

Comunicado Lollapalooza

Para realizar um evento do tamanho do Lollapalooza Brasil, que ocupa 600 mil metros quadrados no Autódromo de Interlagos e tem a estimativa de receber um público de 100 mil pessoas por dia, o evento conta com equipes que atuam em diferentes frentes de trabalho, em departamentos que variam da comunicação a operação de alimentos e bebidas, da montagem dos palcos a limpeza do espaço e a segurança. São mais de 9 mil pessoas que trabalham diretamente no local do evento e são contratadas mais de 170 empresas prestadoras de serviços.

A T4F, responsável pela organização do Lollapalooza Brasil, tem como prioridade que todas pessoas envolvidas no evento tenham as devidas condições de trabalho garantidas e, portanto, exige que todas as empresas prestadoras de serviço façam o mesmo.

Nesta semana, durante uma fiscalização do Ministério do Trabalho no Autódromo de Interlagos, foram identificados 5 profissionais da Yellow Stripe (empresa terceirizada responsável pela operação dos bares do Lollapalooza Brasil), que, na visão dos auditores, se enquadrariam em trabalho análogo à escravidão. Os mesmos trabalharam durante 5 dias dentro do Autódromo de Interlagos e, segundo apurado pelos auditores, dormiram no local de trabalho, algo que é terminantemente proibido pela T4F.

Diante desta constatação, a T4F encerrou imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe e se certificou que todos os direitos dos 5 trabalhadores envolvidos fossem garantidos de acordo com as diretrizes dos auditores do Ministério do Trabalho. A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas.

Denúncias anteriores

A empresa Time 4 Fun alega que é um caso isolado, porém, o evento já havia sido acusado de trabalho análogo a escravidão em 2019! Na época em questão, a empresa contratava moradores de rua para trabalhar na área de carregamento e a montagem da estrutura do festival que desde a reforma trabalhista em 2017 era autorizada a forma de trabalho intermitente. A problemática da questão está na forma de pagamento, onde os envolvidos recebiam apenas R$ 50,00 e uma refeição por dia trabalhado, cerca de 12 horas de trabalho. Além disso, eles não eram registrados legalmente, ou seja, também era contra lei.

O site de notícias, Folha de S. Paulo, realizou uma matéria completa onde denúncias foram feitas em 2019, denunciando o evento por mais uma situação contra lei. De acordo com a revista Capricho, o festival também foi acusado em 2018 em relação também a montagem do evento.

Contratação indevida e com ameaças

Em meio ao caso, também foram registrados problemas na contratação e ameaças por parte da diretoria da Yellow Stripe com os funcionários. A equipe contratada afirma:

“Um dos chefes falou: ‘se você for pra casa, nem volta’. Um outro disse: ‘quem precisa [de dinheiro], fica [a noite toda no autódromo]”, afirma M.S, outro resgatado. “Eu, com aluguel atrasado, desempregado, cheio de conta pra pagar e uma filha de 9 meses em casa, vou fazer o quê? Viver uma situação como essa em um festival desse tamanho é triste.”

Além disso, foi apurado que na contratação foi combinado alojamento para todos, mas a realidade foi diferente, eles dormiam em cima de papelões em tendas abertas, expostos ao ambiente e precisavam percorrer um longo caminho até o alojamento que havia sido alugado para parte da equipe da Yellow Stripe, fora do autódromo de Interlagos e ainda sim precisa ser rápido, eles tinham tempo para o banho e o registro era desligado.


*Direitos de Imagem

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Julia Abreu https://bananatura.com.br

Amante do entretenimento, Julia é viciada em séries e filmes dos anos 90. leitora assídua, não vive sem histórias da Agatha Cristie e Stephen King. Atualmente está lendo Nárnia!

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